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Teresa Azevedo

Mulher menina prosa e verso

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Textos


 
               Joana recebia o Sr. Cruel a centímetros de distância. Ele era cliente assíduo, comprador de muitas peças, bom pagador, mas que exigia dela horas de atenção. Nunca foi muito dado a protocolos, nem lhe parecia que o tal tivera uma boa educação. Quando estava com sono abria a boca a ver-se a goela, e ainda sonorizava de forma absurdamente audível sua sensação de sono. Após o almoço, sempre era possível saber o que tinha comido, tal era o seu descaso às boas maneiras. Ela não compreendia como tinha enriquecido tanto sendo assim tão porco e desleixado. Como de costume, ele sempre apertava as mãos dela com uma força descomunal e era impossível não sentir aquelas mãos sebosas que lhe virava o estômago, e sempre lhe vinha a mente os inúmeros micróbios, bactérias e outras coisas que ele compartilhava naquele momento, mas em nome da excelência no atendimento ao cliente engole-se cada sapo, bah! – Naquela manhã ele chegou bem cedo na loja.
 
               — Bom dia! Sr Cruel. - Cumprimenta-o Joana e sem que pudesse dizer mais nada ele dá início a conversa interminável. - Blá, blá, blá, atchiiiimmmmm. Expirra o tal homem e os resíduos são percebidos a metros de distância. - Pensa a pobre Joana: Oh! por Deus, o que faço eu agora? Afasto-me? Permaneço aqui? Isto não é questão de bom atendimento e nem de visar os lucros, mas da minha saúde, de minha vida, pensa Joana. E sem que pudesse se decidir, a história se repete ainda três vezes. - Blá, blá, blá, atchiiiimmmmm. Blá, blá, blá, atchiiiimmmmm. Blá, blá, blá, atchiiiimmmmm. - A esta altura, se fosse o caso dele estar contaminado com a gripe suína que assolava a cidade, sem dúvida ela, os móveis e tudo que estava a frente e a volta deles também estaria. A cada espirro ela se afastava alguns passos, mas sabia que de nada adiantaria. Como algo inédito em outra ocasião, Joana implorava a Deus que ninguém adentrasse na loja até que ela pudesse fazer a desinfecção total, e provavelmente teria que por uma placa que estava fechada para balanço. Neste momento um pensamento mórbido lhe veio à cabeça, visualizando sua loja fechada com os dizeres a porta: “Estamos fechados por luto!”
 
               Em momentos de gripe suína é assim. A pandemia é um fato. Os cuidados são necessários. A conscientização de todos é indispensável. Se você conhece uma Joana ou um Sr. Cruel, acorde e preocupe-se com sua saúde e dos que o rodeiam.
 
               O texto acima foi escrito em 2009 e reescrito em 2017, quando a preocupação era com a febre amarela que não é transmitida pelo ar, mas através da picada de mosquitos do gênero Aedes ou Haemagogus, sem contar a dengue, zica e chicungunya contraídas através da picada do mosquito Aedes Aegypti. Republico agora quando a pandemia do Coronavírus acomete o mundo e, ainda assim, muitos não tomam os cuidados mínimos para evitar sua disseminação: lavar muito bem as mãos, usar alcool gel, evitar aglomerações e manter uma distância mínima, usar máscara, etc.  Sem contar que em paralelo, a dengue continua a atacar, isto porque do mesmo modo muitas pessoas são displicentes, sem lembrar da importância de evitar criadouros, não deixando água parada.

ilustração - todaspipas.blog.sapo.pt
Teresa Azevedo
Enviado por Teresa Azevedo em 07/08/2009
Alterado em 04/06/2020
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