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Teresa Azevedo

Mulher menina prosa e verso

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Textos

Madalena e seu príncipe encantado
Madalena tinha um encontro e estava feliz. Ela já tinha seus quarenta e trálálá e ele uns cinqüenta e qualquer coisa.
Já vinham conversando através de um site de relacionamento há alguns meses e pareciam se dar muito bem. Ele era um homem de poucas palavras e ela procurava acompanhá-lo respondendo apenas o que lhe era perguntado e vez por outra fazendo algum comentário, a seu ver, agradável.
Naquele dia ele tinha ligado para ela logo cedo e combinado o encontro. Tudo parecia perfeito. Encontrar-se-iam em um Shopping da cidade, o que é recomendável para dois estranhos. Cláudio quis que ela propusesse o lugar e assim foi, um café.
Pouco antes do encontro Madalena tinha que fazer algumas coisas na cidade então optou por vestir uma roupa mais informal. De calça jeans, uma blusinha solta e uma rasteirinha sentiu-se bem. Ela estava sem carro nos últimos meses e teria, portanto que tomar ônibus.
A caminho do Shopping, já muito nervosa, ela mal se continha. Sua expectativa era grande, afinal foram meses de flertes virtuais.
Quase chegando uma chuva torrencial caiu sobre a cidade. O ônibus parou e mesmo abrindo a sombrinha era inevitável que Madalena ficasse ensopada.
No toldo de entrada uma ligação dele a qual ela já estranhou nossa já estou aqui há meia hora e você não chega. Aquilo soou em tom deselegante. Talvez fosse o fato de estar totalmente encharcada que lhe desse essa impressão. Procurou o toalete mais próximo, penteou os cabelos, retocou o batom e sacudiu as pernas na tentativa de se desvencilhar da água acumulada.
Ergue a cabeça como se fosse à rainha da Inglaterra, ajeitou a roupa e caminhou até o café com passos firmes e certeiros.
Lá chegando lembrou-se de que estava sem óculos e que sem eles sua dificuldade em distinguir um cavalo e um elefante era um tanto grande, mas aquela altura já estava difícil de voltar atrás.
Chegou, olhou para um lado. Olhou para outro e nada. Resolveu caminhar até uns bancos em frente do café, encontrar o celular e ligar para ele. Mas assim que se abaixou para pegar o celular que já havia colocado no banco olhou por baixo do braço e percebeu que do lado do caixa, solitário havia um senhor de braços cruzados que poderia ser ele. De onde ela estava o tal homem parecia bem vestido e mesmo com sua dificuldade visual ele possuía um bigode que o tornava inconfundível.
Guardou o celular. Levantou-se e caminhou em direção ao homem pensando que como ele estava próximo ao caixa, se ela estivesse enganada poderia comprar algo e disfarçar o equívoco sem que o mesmo fosse percebido.
A esta altura o calor do seu corpo era tamanho que a água da roupa já tinha evaporado quase toda.
Chegou perto, bem perto até que pudesse confirmar que estava certa o que era de fato muito perto. Então exclamou: - Cláudio é você?
Ao que ele respondeu com uma expressão não muito inspiradora: - Madalena? E virou-se para ela. Nesse momento ela estranhou a altura dos cabelos dele eram de fato muito altos apesar de curtos. Se eles estivessem para frente, ela ia achar que era algum penteado jovial, mas não estava para trás mesmo...
Bem, ela pensou o que importam os cabelos se ele for um bom homem. Ela propôs que se sentassem e tomassem um café. Ao que ele disse que poderiam, mas que ele não tomaria.
Ele propôs que andassem um pouco para conversar.
Mais uma vez ela estranhou, pois gostava de conversar olhando para a pessoa, mas  quem sabe ele não era tímido não é?
Em um rompante de curiosidade e insatisfação por não ter sido elogiada no momento em que se conheceram ela perguntou:
- Você ficou insatisfeito? O que você esperava?
Ao que ele respondeu:
- Eu nunca espero nada, assim nunca me decepciono ou me surpreendo...
Aquela resposta tinha sido horrível, mas então ele contou que estava aposentado e que no começo tinha sido difícil, mas que já tinha se acostumado.
Já do outro lado do Shopping ela não sabendo mais o que dizer sugeriu que fossem tomar um café. Ao que desta vez ele aceitou.
Durante o café ela o inquiria sobre o que ele gostava de fazer e ele disse que gostava de cinema, mas de filmes românticos ou de dramas. Nossa aquilo era uma raridade para um homem. Que maravilha!
Já de teatro que ela amava, ele disse odiar. Os erros que ocorrem por ser tudo ali sem cortes, ou retoques o faziam irritado. Isto era de fato a beleza do teatro para ela a capacidade dos atores de contracenarem sem cortes.
Papo vai, papo vem muito pouco papo, diga-se de passagem, e decidiram ir ao cinema.
No horário da tarde para azar deles o que estava passado não era romance propriamente dito, então ela achou melhor que assistissem a Sherlock Holmes que apesar de ser um filme de ação é um clássico da literatura e deveria ser mais interessante.
Já dentro do cinema, sem guaraná nem pipoca, começaram ver o filme.
Era um filme não muito agradável, mas se a companhia fosse agradável seria maravilhoso assisti-lo...
Pouco mais de 30 minutos de filme e o rapaz resolveu virar-se para ela. Interessante provavelmente faria um comentário. Quem sabe quisesse ir embora. Com certeza ela o acompanharia e compreenderia.
Talvez nunca mais se vissem novamente, mas tudo bem são as conseqüências normais de se conhecer um estranho.
Mas ao contrário disto ele falou: - vou tomar água e já volto.
Ela concordou e ficou ali sentada atenta ao filme para esperar que ele voltasse.
Quinze minutos se passaram e nada. Madalena esperou mais cinco minutos e levantou-se imaginando que talvez ele estivesse lá em baixo por alguma razão.
No saguão, Madalena não o encontrou e se conscientizou que ele se fora. Por que? Deu de ombros e voltou a assistir \"Sherlock Holmes\"; afinal, mistério por mistério, o da tela era mais intrigante.
Teresa Azevedo
Enviado por Teresa Azevedo em 09/02/2010
Alterado em 09/02/2010
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