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Teresa Azevedo

Mulher menina prosa e verso

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Textos

Um dia bem complicado
Eu olhei na agenda do dia e percebi que tinha esquecido da consulta do meu filho no fim da tarde. Olhei na agenda bem rapidamente e como me lembrava que tinha marcado ortodontista para ele no início do mês me dei conta de que aquele seria o dia. Lembrei-me que a secretária que marcou avaliação disse que o consultório era perto da loja da Peugeot.
O dia foi uma loucura completa. Tanto trabalho que estava exausta já no período da manhã. Pedi comida e comi tão rapidamente para voltar ao trabalho que nem sei como a comida não entalou na garganta. Eu tinha algo que queria terminar, mas a cada vez que pegava no serviço, alguém me pedia uma coisa diferente.
Liguei para meu filho e o comuniquei tinha a consulta e que me encontrasse lá. Estamos sem carro há mais de um ano e temos tido que nos virar de ônibus, mas aquela consulta era em um lugar que não tinha nenhum ônibus por perto. Então tomaríamos um até o ponto mais próximo, uns dez quarteirões do local e andaríamos o até chegar.
O pior é que eu explicava a ele onde era e ele não sabia, não conhecia a tal rua. Tive que falar muitas vezes de formas diferentes. Mais fácil seria ele consultar o “google maps”, pois eu sou daquelas pessoas sem nenhuma noção de direção então cada vez que tenho que explicar um caminho a alguém. Mas por incrível que pudesse parecer no final ele conseguiu entender e disse que se viraria.
À tarde eu estava tão tensa, irritada e com vontade de subir na mesa, gritar como uma histérica e rasgar os amontoados de papel que estavam a minha frente, dar um chute no computador e depois sair correndo e puxando os cabelos...
Meu horário de saída é 17h30min, o dentista era no mesmo horário único horário conseguido já que se tratava de uma associação para baratear o tratamento.  Pensei no tanto que estava distante do local e calculei que se saísse até às 16h30min eu conseguiria chegar a tempo. Porém, para não mudar a característica do dia as coisas se complicaram e eu só saí as 17h02min voando é claro.
Felizmente assim que cheguei ao ponto que ficava umas quatro quadras morro acima depois do meu serviço. Entrei toda despenteada, com o coração a mil e a respiração ofegante. O pobre do cobrador assustou ao olhar para mim, mas pegou o dinheiro e abaixou os olhos.
Procurei um banco e avistei meio, eu sou gordinha e sempre ocupo um pouco mais da metade de um banco, mas naquele já havia um senhor que era bem mais gordo que eu. Ficamos os dois com os bumbuns inclinados para cima de um lado e só com uma das partes no banco. Nossas cabeças quase se encostavam. Para quem não podia imaginar o desconforto que estávamos sentindo imaginaria que aquela era uma cena meiga de dois gordinhos enamorados. Mas nós mal respirávamos e tentar sair dali novamente era arriscado, tínhamos entalado de tal modo que nem sei como desceríamos em nosso ponto.
Lá pelas tantas o meu colega de banco resolveu descer, nos movimentamos um bocado até que ele conseguisse desentalar, coitadinho fez tanta força que acabou soltando gases estridentes que o fizeram corar, tudo que fiz foi abaixar a cabeça e seguir viagem esperando que meu próximo colega de banco fosse um faquir ou modelo com bulimia, daquelas bem esqueléticas mesmo. Mas quando vi outra gordinha chegando bem perto fugi. Devo ter saído tão rápido que a pobre pensou que eu fosse mágica, mas eu é que não ia enfrentar aquilo de novo. Preferi mesmo ficar em pé perto da porta.
Curvas para lá, curvas para cá, freadas e derrapadas. O motorista com certeza pensava que ele estivesse participando de um rali, acho que tinha sido assim a viagem toda, mas só agora que eu tinha saído da minha proteção de desconforto que estava percebendo. Meu punho ainda dói um bocado porque eu quebrei meu braço em dezembro último e ficou uma dorzinha para que eu não me esqueça disto. A cada vez que o motorista fazia uma curva espetacular, meu punho também dava um choque espetacular de forma que mordia os lábios para não gritar de dor.
Finalmente estava chegando ao ponto que eu deveria descer, fui confirmar com o cobrador se o melhor ponto seria o próximo ou o seguinte e ele ficou ali pensando tanto que eu decidi dar o sinal antes que passasse o primeiro. Felizmente era o ponto certo. Nossa finalmente uma coisa legal tinha acontecido eu só teria que andar dez e não quinze quarteirões.
Desci e pus-me a correr na direção do tal dentista. Correr é modo de dizer, afinal eu não pratico corridas e nem caminhadas em longas há algum tempo, assim vocês podem imaginar meu despreparo. Mas o que não fazemos por nossos filhos não é?
E assim fui marchando avante, sem ar e com câimbras e dores e todas as partes do corpo. Eu estava no número 1650 e deveria chegar ao 579. Então teria um longo a caminho a percorrer.
A casa diminuição de centena dava um suspiro de alívio e nem pensava em quantas faltava ainda. Quando estava no número 800 à câimbra aumentava e eu mal conseguia andar, assim mesmo tentava ignorá-la e seguir em frente de modo que acabei passando pelo meu filho e nem o vi. Ele estava em uma rua que cortava a avenida do médico e nem me chamou quando passei, não sei se também não conseguiu raciocinar rapidamente ou se não me reconheceu correndo como louco do jeito que estava. Caminhei até a metade do quarteirão e consegui compreender que tinha passado por ele, desacelerei e voltei.
Então fomos ao tal ortodontista. Toquei a campainha duas vezes, achei até que não tinha mais ninguém. Então a porta se abriu e entramos. Tinha uma escada de uns oito ou dez degraus que para mim parecia à escada da penha, não que eu conheça essa segunda, mas imagino que seja bem grande. Eu peguei um leque que levo na bolsa para os casos de calor extremo e comecei me abanar. Percebi que os clientes me olharam com olhar suspeito. Consegui subir, e tirei minha agenda com todos aqueles papéis que costumo carregar dentro dela. Alguns caíram, eu os apanhei e os deixei em uma das filhas da agenda, então eu a  abri no dia 4 de março e perguntei a disse a secretária: - temos consulta com Dr. João, ortodontista. Ela me olhou como quem olha algo estranho e disse: - aqui não tem ortodontista senhora. Eu conferi o endereço na agenda e o repeti para ela, ao que concordou ser ali, mas repetiu que não tinha ortodontista. Os olhares dos clientes mais uma vez sobre mim. Então pedi a ela que ligasse para mim para o nº que eu tinha e ela ligou e disse. Não atende, já devem ter saído. E eu: - mas liguei hoje para confirmar a consulta com o Dr. João. Ela respondeu: -  temos Dr. João aqui , mas é ortopedista.
Em questões de segundos meu cérebro conseguiu organizar as coisas e perceber que eu tinha feito confusão de data, o ortopedista eu de fato havia marcado para ele em janeiro e nem me lembrava da tal consulta. Até porque já havia conseguido outra depois disto. Virei à página da agenda para o dia 5 e percebi que o ortodontista que também era em uma rua próxima a aquela seria no dia seguinte. Tentei ligar lá, agora sim no telefone do ortodontista e não mais do ortopedista, para ver se não poderia nos atender hoje, mas nada. Aí como forma de não perder a viagem perguntei a moça o que precisaria apresentar para a consulta de hoje, era uma carteirinha que não tinha comigo. Assim mesmo insisti que ela nos passasse pela consulta que amanhã traria a carteirinha, mas ela disse que não poderia mwamo. Os clientes me olhavam com cara de que eu deveria mesmo era ir a psiquiatria. Então agradeci e saímos.
Meu filho que já estava calado e com raiva por causa do ocorrido permaneceu assim. Ele andando a passos largos, quase um quarteirão de mim. Então o chamei e propus fosse sozinho, então ele resolveu andar comigo.
Dizendo que eu fosse rápido, o que já não conseguia. Quando fui para lá fui rápido, mas dei todas as forças que tive ali, agora que eu não tinha mais horário para voltar então poderia ir um pouco mais devagar.
Eu estava com uma sandália anabela e acabei virando o pé, felizmente  meu filho estava pouco a minha frente de forma que pude me agarrar na mão dele e puxa-lo com tanta força para baixo que se ele não fosse forte com certeza cairia. Ele mesmo havia observado uns dias atrás que eu tenho andado com o pé esquerdo para frente e o direito um pouco para fora. Isto deve provocar tais acidentes. Não posso ser tão desastrada assim.
Por um momento ficamos atônitos olhando um para o outro, mas depois caímos na gargalhada.
Só então comentamos como tinha sido engraçado ver a cara dos pacientes  e como foi estranho que a secretária tivesse ligado para o próprio número e não se deu conta que era o número dela.
Mais a frente ainda sem atentar para meu andar, virei o pé novamente e mais uma vez me segurei nele. Nas duas vezes virei o pé direito. Graças ao apoio quando segurei no meu filho não tinha sido nada sério. Mas então comecei me forçar andar com os dois pés para frente e também começamos andar mais devagar.
Ele ia prestando atenção em tudo e me prevenindo dos  perigos, do chão irregular, carros a frente enfim parecia uma criança guiada pelo pai.    
Quando já estávamos chegando a nossa casa ele se adiantou um pouco e eu acabei virando o outro pé devido a uma inclinação da calçada, como desta vez ele não estava por perto me apoiei na parede. E ao contrário das outras de fato torci o pé com muita força e a coluna e até fiz xixi na calça.
Cheguei em casa acabada, mancando e com dores, corri para o banho passei um creme com cânfora, tomei um analgésico, uma sopinha e cai na cama.
Assim fechei com “chave de ouro” esse dia complicado.
Teresa Azevedo
Enviado por Teresa Azevedo em 06/03/2010
Alterado em 06/03/2010
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