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Teresa Azevedo

Mulher menina prosa e verso

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Meu Diário
21/01/2010 19h03
Um pouco mais da praia para mim...
Dia 19/01/2010 eu já estava aqui em Ubatuba com meu filho caçula e meus amigos Regina e Robinson. Fomos a praia pela manhã. A água do mar me fez tão bem, consegui relaxar e melhorar minhas dores. Dores ainda em conseqüência do atropelamento e do tombo que levei na sorveteria a pouco mais de uma semana. Pois é, sou mesmo uma pessoa bem desastrada, rsrs...  Por falar em ser assim tão desastrada, após a praia passamos no mercado para comprar algo para o almoço. Ao sair eu consegui mais um machucado, bati o mesmo joelho ainda aberto do último tombo. Se não fosse comigo eu nem acreditaria como uma pessoa pode ser assim... Tomei minha última carbamazepina hoje continuarei tomando apenas o citalopram. Mas estou me sentindo ótima mesmo. Tenho algumas preocupações em mente, sobre coisas que precisarei resolver assim que voltar a Campinas e antes do meu retorno ao trabalho, mas no momento eu quero mesmo é curtir a vida, ou melhor, a praia.
Hoje 21/01/2010 - Acordei as 5:00 horas e não consegui mais dormir. Acabei me levantando as 5:31. Peguei papel e caneta e sentei-me no banco de madeira em frente ao apartamento. Ali fiquei observando a chuva que já estava fraquinha. Tinha chovido a noite toda. Agora os últimos pingos de chuva caiam sobre a cidade e em breve seriam substituídos pelo sol, em um céu ainda nublado. Os carros e motos já começavam trafegar na rodovia logo a frente. Os trabalhadores de bicicleta já iam a caminho do trabalho. Tudo estava calmo e convidativo a inspiração. Fico impressionada como me conecto com a natureza em um lugar como este. Aqui  longe das preocupações e atropelos sou o melhor de minha, minha porção maior. Estar com meus amigos e meu filho então é ainda mais maravilhoso, sinto-me amada e protegida. Saber que estou em férias e que um emprego, uma casa, uma família me aguarda é muito reconfortante e motivo de honras e glórias a Deus a todo instante. Minha gratidão a Ele é tremenda. Tenho vivido dias de paz incomensurável, de alegria infinda. Vivendo coisas tão inusitadas e belas, como o fato de estarmos aqui juntos. De compartilharmos a lan-house, os passeios são demais. Se há um ano alguém me dissesse que eu viveria estas experiências eu não creria mesmo. A verdadeira amizade é uma jóia de tamanho valor e proporção. Agradeço a Deus por ter me dado tanto.

Ainda me avaliando no final da mesma tarde - O meu estado de espírito nnão poderia ser melhor. Continuo sem carbamazepina. Estou me sentindo muito bem. Transquila e em paz. Também vivendo longe e livre de pressões e preocupações não poderia ser diferente. Ontem eu percebi que me queriam enquadrar em moldes que não sejam os meus.
Minha nova vida é uma vida de independência e podido traçar planos sem ter que viver sob controle de outro, exceto o controle de Deus naturalmente. Isto é muito bom e agradável, de modo que não quero mais ter alguém me dizendo o que devo fazer ou deixar de fazer.
Sonho em ter um novo amor mais que respeite minha individualidade e eu a dele, alguém capaz de me amar e ser amado sem querer me modificar ou me aprisionar.
A sensação de ser livre, de ter meu próprio espaço é algo muito agradável.
Só peço que Deus continue me abençoando e dirigindo minha vida.

Publicado por Teresa Azevedo em 21/01/2010 às 19h03
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20/01/2010 23h26
Hoje o dia foi divino
Estar em contato com a natureza é para mim tocar Deus. Sentir o perfume das folhagens, flores. Vislumbrar os bosques, rios, o mar. Contemplar o céu e distinguir suas nuances furta-cores. Hoje estive no paraíso e acompanhada de anjos, meus amigos Regina e Robinson e meu filho Rafa. Foi um momento único, será inesquecível. Uma gratidão flue de minh`alma e se extende por todo meu corpo, por todo o meu ser. Sinto-me tão bem, tão feliz e leve. Tão menina, tão mulher, tão eu. Sinto-me em mim e não em devaneios. Sinto-me em paz e não em guerra. Sinto-me bem e não em aflição ou desespero. Pude sentir as ondas tocando meu corpo. Pude sentí-las indo e vindo em uma dança aconchegante em torno de mim. Então estou em estado de graça, tal qual o pensador na foto (rsrsrs) extasiado por tamanha maravilha e beleza enfim.

Publicado por Teresa Azevedo em 20/01/2010 às 23h26
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17/01/2010 23h33
Meus parabéns amiga querida
Naquela noite eu estava triste e precisando muito conversar. Minha auto-estima estava baixa e um princípio de depressão me rondava. Precisava de um novo rumo, mas não sabia como tomá-lo.
Como adoradora do Deus Vivo reconheço que Ele tem me dado vida, família, emprego, saúde e milhares de outras coisas, mas eu sentia falta de algo mais. Amo servir a Deus, ler a Palavra, estar na igreja e na obra, mas gosto de fazer outras coisas também. Coisas como estar em grupo, dançar, brincar, conversar sobre assuntos diversificados, viajar, ter muitos amigos, enfim.
Porém eu andava sozinha, não tinha com quem compartilhar várias coisas que gosto de fazer. Sentia necessidade de me identificar com pessoas que pensavam como eu, que tinham sentimentos parecidos. Precisava me sentir feliz, estar mais próxima de realizar sonhos e alcançar metas que traçasse na vida.
Então entrei em uma sala de bate-papo por idade (40-50 anos). O pessoal da sala só ficava copiando e colando músicas, eu já estava desanimada de estar ali. Eu queria era conversar... Então, como última tentativa enviei uma mensagem a todos: - alguém com mais de quarenta podendo tc comigo? Rapidamente obtive uma grata resposta. Uma mulher respondeu ao meu apelo, seu nome é Maysa.
Não imaginei que naquele dia minha vida ia mudar e eu finalmente encontraria pessoas tão maravilhosas que seriam amigas e companheiras de tantas andanças e paradas.
Ela me falou de duas de suas amigas, Regina e a Mari. Disse que estavam sempre juntas e que seria ótimo se eu me juntasse a elas. A princípio fiquei até cismada, afinal hoje em dia as coisas são complicadas, de qualquer modo resolvi aceitar. Marcamos de nos conhecer, fomos ao Giovanetti próximo a Prefeitura de Campinas. Alguns amigos delas também apareceram assim começou o Grupo com: Carlos, Déscio, Maysa, Mari, Mariília, Regina e eu. 
Aos poucos outras pessoas foram conhecendo o Grupo, a que chamamos de “Amigos Internautas”. Desde esse dia eu tenho experimentado uma deliciosa forma de viver entre amigos.
De todos que por ali passaram, alguns saíram e muito ficaram. Todos passaram a morar no meu coração, e nele terão lugar aqueles que ainda estão por vir.
Mas vamos ao que interessa hoje, falando de Maria Izilda Guimarães, a Mari como a chamamos completará no próximo dia 21 mais um ano de vida. Ela é uma mulher linda, amiga, corajosa, cozinheira de primerira, dona de casa maravilhosa, corretora de imóveis e advogada, mãe exemplar de dois lindos jovens: Juan e Mayron. A lista de adjetivos para esta pessoa incrível é imensa então vou ficando por aqui.
No Grupo ela assumiu a liderança na organização de todos os encontros. Não só se preocupou a divulgação, mas também com os ingredientes necessários para cada ocasião. Ela se esmerou em surpresas e mais surpresas, dedicação contínua foi seu lema.
Pela primeira vez na vida eu tive um aniversário organizado por amigos e que aniversário...
Assim hoje,!!! dia que comemoraremos antecipadamente seu aniversário, quero lhe prestar esta singela homenagem. Uma pequena parcela de gratidão por todo cuidado e carinho a mim dispensado ao longo de nossa convivência.
Venho pedir a Deus que, em o nome de Jesus, lhe inunde com toda sorte de bênçãos, que lhe cubra com seu preciosismo sangue eternamente e que não permita que o mal lhe toque. Que haja em sua vida saúde, paz e abundância. Mas, sobretudo que o amor seja consigo hoje e sempre.

Com todo amor, respeito, carinho e admiração.

 Teresa Azevedo (Tetel) - 17/01/2010

Publicado por Teresa Azevedo em 17/01/2010 às 23h33
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15/01/2010 00h40
Dia 14/01/2010 e alguns relatos de 2008
Antes de tudo quero atribuir o louvor a quem de direito. A foto acima é um slide preparado pelo fotógrafo Roberto Mercury (meu irmão querido) com fotos tiradas em Tambabá/Paraiba.
Agora vamos ao dia de hoje, 14/01/2010, estive em São Paulo.
Completei mais um dia sem tomar meus controladores de humor e estou bem, digo sem grandes alterações.
Voltarei a tomá-los em breve, pois sei da importância que eles têm no meu equilíbrio emocional, mas tenho feito alguns testes de resistência com intuito de compreender melhor a doença, seu tratamento e minha capacidade de autocontrole.
Tive vários contratempos que me levaram a um estado de grande estresse, como me sai razoavelmente bem me permiti permanecer sem medicamento por mais um dia, ou seja, por sete dias hoje. Sob alerta contínuo naturalmente.
Experimentei, como na foto acima, quatro humores diferentes pelo menos.
Ontem fiquei trabalhando até as três horas da manhã e por esta razão quase não dormi.

Ao acordar estava exausta.
Como no slide, a salamandra, eu simplesmente queria me deixar ficar ao sol. Camuflando-me da mesma cor do solo,  querendo me confundir com a areia. Mas a necessidade de néctar me fez voar até uma flor, como a borboleta.
Levantei-me e me preparei para ir a São Paulo como havia programado.
Recebi uma mensagem sobre a ocorrência de um assalto em um cliente de uma pessoa muito querida e fiquei bastante triste.

Tentei retornar para a pessoa, mas meu celular ficou sem bateria inesperadamente apesar de sido recarregado há apenas um dia. O que não acontece normalmente com ele.
Percebi que ia me desesperar.  Estava presa no ônibus, não tinha um carregador a mão e mesmo que tivesse não teria uma tomada disponível para faze-lo. Eu nada poderia fazer a respeito. Senti uma ansiedade estrondosa.  
Lembre-me que ontem à noite senti uma sensação terrível de que algo de ruim estava para acontecer.
Tenho estas sensações e as odeio. Mesmo tendo orado e pedido a Deus que me livrasse ou a quem quer que fosse daquilo, começava compreender do que se tratava. Ao mesmo tempo era inegável que Deus estava no controle de tudo e já estava cuidando de para que tudo terminasse bem.
O trânsito estava tão complicado que a viagem levou 1 hora além do previsto.
O pára-brisa do ônibus parou de funcionar devido a uma pane e a todo instante o motorista dizia que se chovesse ele estaria perdido. Passei o tempo ali pedindo a Deus para não chover. Felizmente só quando estávamos entrando no Terminal Rodoviário Tietê começou a chuviscar.
Tomei o metro Jabaquara/Luz com objetivo de chegar ao Shopping Luz, onde pretendia fazer as minhas compras.
Ao chegar perto descobri que o Shopping havia fechado há mais de um ano.
Mais uma vez quis me camuflar e ficar ali parada, mas eu precisava reagir tinha ido fazer coisas que eram importantes para mim e de nada adiantaria me deixar "morrer" ali...
Então como o pássaro acima, voei e sobrevoei montanhas e vales. Como diz a palavra de Deus: Aqueles que confiam no Senhor renovarão suas forças, subirão com asas como águias...
Esqueci dos problemas que estava vivendo naquele momento e me foquei em meus objetivos.
Acabei indo para a 25 de Março conforme recomendação de transeuntes. Nossa que lugar apavorante e totalmente fora dos meus propósitos. Aquela infinidade de lojinhas uma em cima da outra. Mercadorias todas idênticas em todas elas, nada a ver com o que eu tinha ido comprar. Chineses e coreanos falando sem parar. Mais uma vez, voltando à foto me senti como o calango alerta sobre a pedra, olhando ao redor com olhar atento, vigilante.
Finalmente consegui tomar um táxi e ir para o Brás onde encontrei o que buscava. Consegui fazer a compra que desejava pelo menos parte dela.

Senti-me como a borboleta deliciando-me com meu manjar.
Quando estava quase terminando fiquei muito assustada com um incêndio em uma loja. Mais uma vez o calango e a salamandra entraram em ação.
Um novo táxi e de volta a Rodoviária, já calma e tranqüila com a sensação de dever cumprido. Sobrevoei as nuvens como o pássaro.
Tirei uma boa soneca durante a viagem de volta, de modo que ao chegar a Campinas mal podia abrir os olhos.
Finalmente em casa, apesar do cansaço agradeci a Deus pelas maravilhas, livramentos e vitória em cada momento do dia.
Naturalmente que todas as pessoas passam por diversas situações distintas todos os dias e que também tem variações de humor, mas pacientes com T.B. sentem tais variações ou oscilações com tamanha intensidade e instabilidade que uma montanha russa teria dificuldade de expressar.

Sublinhei algumas das mudanças de humor pelas quais passei, mas sem dúvida no decorrer do dia elas se repetiram múltiplas vezes.
Controlar o T.B. não é apenas fazer o tratamento medicamentoso, pois este pode muitas vezes tornar-se insólito.

É viver em estado de contínuo alerta a cada uma das oscilações, Como que em uma UTI móvel você está sempre tentando reanimar um coração que para. Sedar um paciente em surto psicótico. Conversar consigo mesmo como um paciente e seu terapeuta.
Felizmente no meu caso conto com o maior dos amparos: Deus. Sem Ele acho que já teria desistido de tantos sonhos, pois tenho que viver relutando com as limitações como em uma camisa de forças. Naturalmente que minha família e amigos muito tem cooperado para minha luta ser menor, bem menor. Porém, os “expoentes” internos da psique de um paciente de T.B. são, de fato, vivenciados a cada segundo por somente por ele mesmo.
Fico feliz por estar podendo experimentar tudo isto e pouco a pouco trabalhar no meu autocontrole.

Bem sobre hoje é só.
Continuaremos conversando mais um pouco a este respeito em alguns relatos de 2008 que vocês lerão abaixo
Relatos estes que foram escritos no auge da doença, logo após o surto e o diagnóstico de T.B.
Durante aquela fase inicial eu vivi além da doença e como conseqüência da mesma um período de total escassez financeira de modo que mencionarei situações a despeito de tal dificuldade.
Logo depois da crise, como alternativa única que encontrei para ter uns trocados mesmo estando trabalhando das oito horas e trinta minutos até as dezessete horas e trinta minutos na UNICAMP, consegui um bico de balconista na Padaria Bela Vista das dezoito a meia noite de uma a duas vezes por semana. Foi um tempo de aprendizado fantástico que em breve estarei relatando aqui. Entretanto imaginem se eu mal me agüentava trabalhando em horário normal quem diria fazendo o tal bico.
21/08/2008 – breve relato sobre como tenho me sentido:
Dei início à medicação no mesmo dia da última consulta. Nos primeiros dias tive vários tremores nas mãos, provavelmente porque a medicação estava acompanhada de citalopram de 60 mg. Há pouco mais de uma semana o citalopram de 40 mg começou ser utilizado e os tremores melhoraram. Entretanto, o medo, uma sensação horrível de desespero, impotência, incapacidade me apavoram.
Há momentos que paro o que estou fazendo, não consigo raciocinar como normalmente fazia.
Uma insegurança contínua estagna toda e qualquer decisão.
Tenho tido “pesadelos”, também tenho tido sonhos com coisas que foram prazerosas.
A questão do sono excessivo é insuportável e o pior é um desânimo que me impede de produzir. Não dou conto do que deveria fazer no serviço e principalmente em casa. As coisas se acumulam e a cada dia. Sinto-me cada vez mais incapaz. Tenho relutado muito comigo mesma. Sangro na alma por já não se capaz de nada. Sou apenas um peso morto no caminho das pessoas.
Acabo de sair da consulta com a Dra. Renata, Psiquiatra do CECOM UNICAMP. Fiquei muito deprimida com o resultado, pois esperava uma associação vitamínica que me fizesse capaz de executar minhas tarefas diárias. Ao contrário disto ela precisou aumentar carbamazepina de dois para três comprimidos a noite. Segundo ela vai controlar melhor meu que equilíbrio de humor. Adicionou risperidona que segundo ela seria o menos perigoso para sair do estado depressivo e ir para o estado eufórico. Tomar tantos remédios é horrível. Além disto, ao ler a bula me desesperei. As indicações do medicamento e as possíveis reações adversas são tremendas. Bem, terei consulta daqui a quinze dias. Acatarei a prescrição para ver como me sinto. Mas espero não ter que depender desses medicamentos por muito tempo.
Só para melhor compreender meus dilemas. Hoje à tarde, um colega trouxe sorvetes para vender ao preço de custo R$0,5. Eu fiquei com vontade de comprar e tinha o $, mas pensando que amanhã tudo ficará complicado. Que o meu garoto pode estar com vontade de algo básico e eu não possa suprir seu desejo não comprei.
Assim é com todos os inúmeros eventos pagos que virão pela frente Fico com o pensamento de que está para vir o aniversário do meu filhinho, o natal, enfim... Fico arrasada por não poder patrocinar nada de extraordinário para ele, nem de básico para minha mãe, como acompanha-la nas consultas etc. São coisas tão banais para a maioria das pessoas, mas para mim são monstros terríveis. Como é difícil bater de frente com as nossas mazelas da alma.
25/08/2008
Tive minha primeira sessão de psicoterapia com a Dra Ildelene, do CECOM/UNICAMP.
Bem mais antes quero relembrar o início da mudança da medicação pela Renata. Mudança esta que já notifiquei acima, com certo assombro.
Comecei na quinta-feira a noite e fiquei extremamente zonza. Esforcei-me ao máximo para dar algo para o meu filho comer, mas logo adormecei N sexta-feira eu acordei tarde. Levantei e quase cai de tão dopada que estava. Vi que não conseguiria ir trabalhar. Liguei para a Diretora explicando como eu estava e minha diretora não só compreendeu como me permitiu ficar em casa.
No fim-de-semana eu senti que as coisas começavam melhorar. Inclusive o raciocínio por um lado, mas por outro as crises de medo estavam bem fortes. Não sei exatamente do que tenho medo, acho que do enfrentamento. Por exemplo, no domingo meu filho mais novo se batizou, somos evangélicos e isto é algo que vemos com grande alegria, especialmente quando um garoto como ele toma esta atitude por si só. É claro que eu estava alegre, feliz e grata a Deus. Mas por outro, eu ficava me vendo vivenciando meu momento horrível. Envergonho-me perante ele, ou seja, ele tão jovem e tão ponderado. E eu tão velha e tão incapaz. Como isto é complicado para mim. De qualquer modo estive lá, cheguei muito assustada ainda, mas deu tudo certo e foi até muito lega. Fiquei muito orgulhosa do meu menino e deixei de lado por um pouco as atitudes de autocomiseração.
Eu passo o dia todo tentando me observar.
Hoje ao acordar tive medo novamente. O medo de enfrentar o trabalho e as dificuldades que tenho enfrentado nos últimos tempos. Fui mesmo assim. Cheguei mais disposta e me ative a tudo que estava por fazer.
Assim foi também o momento que antecedeu a terapia.
Na terapia foi um tempo “engraçado”, desajeitado por assim dizer. Uma pessoa de 49 anos tentando voltar no tempo e reviver coisas antigas. Descobrir as causas dos problemas hoje enfrentados e se defrontar com as conseqüências de hoje. Sinto-me estranha. Em um primeiro momento duvidei. Eu a questionei sobre a probabilidade de isto dar certo.
É impressionante como tudo que rodeia o ser humano é complexo.
Eu quero me resolver mesmo que seja tarde, mas tudo é muito doloroso e duvidoso.
Eu fico buscando desesperadamente um jeito de enfrentar as dificuldades financeiras de hoje. Fico pensando em fazer alguma coisa possível, palpável, real e que não seja fruto de meu desejo eufórico ou fantasia psicótica.
Eu tenho pensado muito e hoje vejo que, o trabalho na Padaria foi muito legal como experiência e aprendizado, mas me senti tão humilhada que quando eu tive a oportunidade de mostrar que aquele não era o meu trabalho mesmo, exagerei. Quando eu estava tentando me tornar uma ótima cozinheira e dona de casa exemplar me esforcei muito. Mas eu apenas posso fazer porque tenho, é claro que tenho que fazer o melhor que puder, mas isto não será minha paixão. Muito pelo contrário. Então hoje tenho a clareza destas coisas.
Com a sessão de terapia de hoje acho que eu descobri algumas coisas. Por exemplo, que a doença da minha mãe foi a causadora da perda de referencial daquela mulher lutadora que ela era para mim. Alguém em quem eu me inspirava e me apoiava, mesmo quando eu tentava ser a inspiração e apoio para ela. Por o outro lado, descobri que ela, sem imaginar jamais, me causava um sentimento de culpa inconsciente. Afinal ela era a provedora, a correta, a leal e eu ainda assim amava tanto meu pai. Aquele homem que a traia com tantas amantes, que nos fazia sofrer tantas privações, e desaparecia por meses e tantas outras coisas que vivi no meu período de infância e adolescência.
Era como se eu amasse mais ao meu pai do que a ela. Era algo que eu queria que não fosse assim, que eu queria esconder dela para poupá-la, pois me sentia mal com isto. Afinal ela era a pessoa boa, correta, presente e ele era o pai confuso, ausente. Tudo isto fazia parte do meu inconsciente e do subconsciente. Só hoje está tornando parte do consciente. No momento em que ela teve uma crise psicótica, na época diagnosticada como esquizofrenia, ela se lembrou somente dos meus irmãos como seus filhos. Ela não reconhecia a mim ou a minha tia como sendo nós e sim via em nós as muitas amantes do meu pai. Além do choque de se uma desconhecida para minha própria mãe naquele momento eu senti como se ela tivesse descoberto que eu o admirava mais do que a ela. Aquele quadro abriu em mim uma ferida tão profunda que me atormentou durante todos os anos que o sucederam.
Então daí em diante eu precisava, inconscientemente me proteger desta acusação. Passei a me ver em débito com ela e comecei achar que deveria recompensá-la de todas as maneiras. Por esta razão que a cada vez que ela dizia estar com falta de algo eu fazia das tripas coração para lhe dar o que precisava. Fazia em empréstimos e mais empréstimos. Por outro lado, por me sentir culpada por também amar meu pai e não só a ela, passei a acusá-la inconsciente de desamor por mim. E a nutrir um complexo de rejeição fantasioso. Imaginar que eu era adotiva, que era filha da minha tia e não da minha mãe. Enfim... Se ela não me amava e me rejeitou não teria importância que eu a tenha admirado tanto ou menos do que a ele. *
Ainda na noite do dia vinte e cinco, uma sensação de medo me constrange.
Uma insegurança tremenda. Lembranças frustrantes do que não posso dar aos meus pais, aos meus filhos...
Uma vontade enorme de reviver os dias de áureo labor, quando tudo era tão prazeroso e real.
26/08/2008 – Ontem eu dormi a meia noite. Hoje acordei antes das sete horas. Levantei sete horas e trinta minutos estando mais bem disposta do que no dia anterior. Isto eu creio, seja é um sinal de melhora. Os tremores involuntários na mão estão razoavelmente presentes. Não posso dizer que nenhuma sensação de medo me assolou hoje. Mas tudo foi mais franco, menos contínuo. Estou conseguindo pensar, digo raciocinar com mais rapidez. Hoje tive vontade de vir trabalhar. Também é claro, devido estímulo provocado pela conversa que tive com minha diretora ontem. Por ela ter dito existem coisas que ela ainda espera que eu faça aqui na Gráfica. Na hora do almoço tentei criar um personagem e fazer uma história em quadrinhos, mas o momento não foi favorável para isto. Não vou desistir, mas pensarei melhor a respeito. Quem sabe tentar montar algo em cima do que já existe. Ontem fiquei imaginando como as minhas interpretações, pós-terapia, das recordações que tive, me levaram a ver um complexo e antagônico funcionamento da minha psique. A figura batalhadora e constante, proteção da minha mãe para comigo e com a família, me levavam assumir um papel de proteção para com ela. Era como se eu quisesse recompensá-la. Assumir os movimentos de força física na ausência do meu pai. Mas o que me estimulava mesmo era a leviandade, a falta de compromisso e é claro a imagem de força física inabalável dele. Afinal ele sempre foi um homem muito forte, daqueles que saia de casa carregando dois filhos, um no colo em um dos braços outro no pescoço, duas malas pesadas em outros dos braços. Nossa aquela imagem de força me dava uma pseudo-sensação de proteção. Olhe só o que são os meandros da mente humana. Quanto mais eu tentava esconder isto dos outros e de mim mesmas, mais eu assumia a figura dele. Quando eu vi minha mãe doente eu faço uma leitura mental e corporal de assumir abertamente a minha falta de estrutura e ao mesmo tempo me sentir ainda mais culpada pelo que aconteceu a ela. Como se pudesse ser minha culpa.
04/09/2008 – Passaram-se seis dias desde a última vez que relatei diariamente o que estava sentindo. Desde então observei que de forma decrescente tive várias crises de medo. Quando as tive ocorreram principalmente durante o período da tarde, em outros horários com menor. O novo medicamento e o aumento da dosagem do outro propiciaram melhoras consideráveis. Percebi que tive dificuldade de dormir cedo, comecei ter ânimo para fazer algumas coisas rotineiras. O sono já não é mais um fator tão perturbador como antes. Entretanto pela manhã ainda tenho sono pelo fato de estar indo dormir mais tarde. Observei que a minha capacidade de raciocínio e agilidade ainda é pequena, mas já consigo ver a vida com outros olhos. Consegui enfrentar duas situações profissionais inóspitas com bastante tranqüilidade, sem abalar meu humor. Tenho tentado me auto-analisar a cada passo. Visualizar sentimento, sensação, controlado para não sair do estado depressivo e ir para o estado eufórico.
Hoje depois do início do primeiro tratamento, em fevereiro. Quando eu estava além de tudo em uma depressão profunda e absoluta. Só ficava literalmente deitada por dias e dias. Não me levantava nem para comer ou tomar banho. Quanto eu levantava para ir ao banheiro eu o fazia curvada. Quando me sentava me mantinha tão curvada com a cabeça quase no joelho, não tinha forças para me manter ereta ou próxima a isto.
Mas hoje, como eu ia dizendo, a médica disse que foi a primeira vez apresentei uma aparência boa e ela pode observar uma melhora considerável.
Estive questionando-a o uso de rivrotril em transtorno bipolar. Minha preocupação se deu por ter lido a bula como disse acima e lá dizia que o medicamento utilizado apenas para esquizofrenia. Ela me explicou que esse medicamento também é utilizado sim no tratamento de tratamento de transtorno bipolar.
 
*A elucidação de tais sentimentos escondidos foi tão agonizante, mas também tão benéfica que consegui perdoa-la. Perdoar a mim mesma. Perdoar ao meu pai. Enfim. Foi um grande momento de aceitação.

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Publicado por Teresa Azevedo em 15/01/2010 às 00h40
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14/01/2010 03h23
Maria José, a noiva madura
O desenho acima foi feito em 23/04/2005 e fotografado por mim em uma câmara digital de baixíssima qualidade. Eu o fiz tendo como modelo uma foto do casamento de minha mãe. Apesar de a imagem ter ficado péssima, resolvi publicá-la mesmo assim. A razão de tal decisão é para que eu possa ter uma noção do progresso que espero alcançar a partir de agora. Meus desenhos não têm qualquer técnica, ao contrário. Mas sempre que me expresso, quer escrevendo ou desenhando, o faço com toda força de minha alma. A data de hoje servirá de marco para uma nova fase de minha vida.
Minhas metas para o ano em curso são: organização, limpeza e dispensa de tudo que for desnecessário, aprimoramento, busca de conhecimento, melhoria contínua, publicação de um livro, exposição de achados antigos e uma boa dose de novas criações mais maduras e em contínua melhoria.
Acatando a sugestão do amigo, poeta, auxiliador e escritor Fábio Renato Villela por quem tenho uma estima e respeito imenso, resolvi criar meu blog.
Pretendo passar a publicar tanto no diário do meu site, como no blog a maioria dos fatos contínuos e/ou diários.
Depois de tantos e tantos anos percebo que não basta criar e deixar armazenado criando ácaros e ocupando lugar apenas em um canto escondido. Também não basta fazer e mostrar para um filho, mãe ou algo assim. É preciso publicar e buscar aprimoramento sem medo ou vergonha de errar.
Afinal quem pode fazer o certo sem jamais ter errado?
Quem pode se apresentar ao mundo, envergonhando-se até de si mesmo?
Quem pode dar frutos se jamais se deu a semeadura?Os relatos de uma pessoa comum acometida por um problema de saúde o “Transtorno Bipolar".
O objetivo é relatar os sentimentos, sensações, limitações, estabilidade, uso de medicamento, conseqüências, etc..
Mais uma vez tenho que agradecer ao Fábio, afinal ele tem me feito compreender que até uma pedra bruta, no campo das artes e literatura, como eu posso ser lapidada e produzir uma obra.
Deste modo espero que o que produzo não fique apenas na lembrança de uma pessoa querida, mas possa servir de material de pesquisa e apoio no tratamento do T.B.. Além de identificação e alguma resposta a pacientes, familiares e amigos com o mesmo problema que o meu.
Já vinha trabalhando na elaboração de um livro sobre o tema, que será enriquecido e mais completo com os detalhes a partir de agora descritos.
Conto com vocês, caros leitores e amigos para, como sempre, me apontarem falhas e registrarem sua opinião franca.
Grande abraço,
Teresa Azevedo
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Publicado por Teresa Azevedo em 14/01/2010 às 03h23
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